O terapeuta é mesmo um animal

Segundo a pedagoga, os animais, se bem tratados, podem se tornar grandes colaboradores na cura de doenças humanas, tanto físicas quanto psicológicas. Adestradora de cães há 6 anos, Cláudia se interessou pela Pet Terapia durante estudos sobre o cão-guia, condutores de deficientes visuais, após concluir que além do apoio prático, os animais proporcionavam benefícios sociais e psicológicos aos donos. "Existem várias pesquisas científicas que comprovam bons resultados obtidos em tratamentos com cães, gatos e peixes. Na Europa esse tipo de estudo está bastante avançado, contudo no Brasil ainda encontramos muita resistência", explica a professora Maria Darci, coordenadora do curso.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos já comprovaram que o contato com os animais contribui para a redução de problemas cardíacos, do colesterol, além de diminuir sentimentos de isolamento e ansiedade, principalmente em pessoas idosas. Na África do Sul, outro pesquisador chegou a demonstrar que bastam 10 minutos de interação com um animal para que este gere benefícios orgânicos à pessoa. De acordo com as professoras, o primeiro registro de uso da Pet Terapia foi registrado em 1972, na Inglaterra, em um retiro para pessoas com problemas mentais. "A direção se revoltou com as práticas utilizadas em hospícios e passou a utilizar animais como complemento ao tratamento. Os pacientes que apresentavam bons resultados, como recompensa podiam tratar dos animais", acrescenta.
Ela ressalta que nos Estados Unidos a prática já está mais difundida e que muitos "animais terapeutas" não só são solicitados em hospitais como recebem diplomas pelo benefício prestado. No Brasil, contudo, a cultura é mais rígida e dificulta a entrada de animais em grande parte dos estabelecimentos. "Não temos uma cultura de animais, e os deficientes visuais são os que mais sofrem com isso, pois seus cães comumente são barrados em shoppings e metrôs, por exemplo", afirma Darci. Em Brasília, a equoterapia - terapia com cavalos - que é um dos ramos da Pet Terapia já está sendo utilizada pela Hípica, Granja do Torto e Dragões da Independência, contudo'" a resistência ainda é grande.

MARIA DARCI E MARIA CLÁUDIA: professoras do curso.Utilidade na Escola

Cássia Maria, professora do Centro de -Ensino Especial do Guará, já tem finalidade certa para os conhecimentos que vai adquirir no curso. Ela se matriculou nas aulas e está ansiosa para aplicar! o aprendizado na escola em que trabalha. "Pretendo realizar um trabalho psicológico e profissionalizante com meus alunos utilizando os animais", afirma a professora. Cássia explica que vai ensinar a crianças e adultos como cuidar dos bichos, dar banho e tosá-los, para que no futuro busquem especialização para trabalhar na área de veterinária. Para os alunos mais comprometidos pela deficiência vai trabalhar a parte social e afetiva proporcionada pelo contato com animais. "A comunidade está disposta a ajudar. Os pais estão contribuindo e contamos com o apoio de uma veterinária que irá analisar os bichinhos previamente", ressalta Cássia. Para Cláudia este é o principal objetivo do curso: levar os animais até as pessoas, possibilitando um tratamento domiciliar, junto ao apoio da família, que é essencial.

Para Pessoas e Animais

O curso será ministrado por três professores ca pacitados e contará com aulas teóricas e práticas. Segundo Maria Claúdia, além de estudarem as doenças que podem ser tratadas com a terapia alternativa, os alunos aprenderão conceitos de bem estar, saúde animal e zoonoses – doenças transmitidas dos animais para o homem, como leptospirose ou raiva. “Para trabalhar a terapia com animais animais, antes de tudo a pessoa tem que saber como cuidar bem deles. Ensinamos a cuidar de pessoas e dos animais", explica Cláudia. Cada aluno pode trazer o seu bichinho de estimação, que antes passa por um veterinário que determinará se o animal está em condições de participar das aulas.
A criadora do curso explica que os cães mais utilizados são o Labrador e o Pastor Shetland, contudo não descarta a possibilidade de utilizar outras raças, desde que não seja violenta. Embora esteja mais voltado para cães, a professora promete abordar o assunto com outros tipos de bicho e faz um alerta aos interessados: "Não estamos prometendo cura a ninguém. É um trabalho científico, que deve ser tratado como complemento a outras atividades e não como remédio", esclarece Cláudia.

Jornal da Comunidade, de 31.01.2004, Caderno Viva Melhor Brasília, folha D2.

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